Vinde com alegria tirar água das fontes vivas da salvação

S. Bernardo (1091-1153), monge de Cister e doutor da Igreja – Homilias sobre o Cântico dos Cânticos

“Vinde com alegria tirar água das fontes vivas da salvação” (Is 12,3)

Onde pode a nossa fragilidade encontrar repouso e segurança, senão nas feridas do Salvador? Perfuraram as suas mãos, os seus pés, e com um golpe de lança o seu lado. Por estes buracos abertos posso provar o mel desta rocha (Sl 80, 17) e o óleo que escorre da pedra dura, quer dizer “provar e ver como o Senhor é doce” (Sl 33,9). Ele formulava desígnios de paz (Jer 29,11) e eu não o sabia. “Quem, com efeito, conheceu o pensamento do Senhor? Quem foi o seu conselheiro?” (Rom 11,34). Mas o prego que o perfura tornou-se para mim uma chave que me abre o mistério dos seus desígnios.

Como não ver através das suas chagas? Os pregos e as feridas gritam que, verdadeiramente, na pessoa de Cristo, Deus se reconciliou com o mundo. O ferro trespassou o seu ser e tocou o seu coração, a fim de que ele não ignore mais como se compadecer das minhas fraquezas. O segredo do seu coração aparece a nu nas feridas do seu corpo; vemos a descoberto o grande mistério da sua bondade, esta misericordiosa ternura do nosso Deus, “Sol nascente que nos visitou do alto” (Lc 1,78). E como não seria esta ternura manifesta nas suas feridas? Como mostrar mais claramente que pelas tuas feridas que tu, Senhor, és doce e compassivo e de uma grande misericórdia, porque não há maior amor do que dar a sua vida (Jo 15,13) pelos condenados à morte?

Todo o meu mérito é pois a piedade do Senhor, e não me faltará mérito tanto quanto a piedade não lhe faltará a ele. Se as misericórdias de Deus se multiplicam, os meus méritos serão numerosos. Mas que acontecerá se tenho a reprovar-me uma quantidade de faltas? “Onde abundou o pecado superabundou a graça” (Rom 5,20). E se “a bondade do Senhor se estende por todo o sempre”, pelo meu lado “cantarei eternamente as misericórdias do Senhor” (Sl 102,17;88,2). É esta a minha justiça? Senhor, recordar-me-ei apenas da tua justiça, porque é ela a minha justiça pois que para mim se tornou justiça de Deus (Rom 1,17).

Fonte: http://www.evangelhoquotidiano.org